Aquele que era apenas um diário de desabafos transformou-se num dos blogs mais lidos em Portugal: “A Pipoca Mais Doce“. O sucesso levou esta benfiquista ferrenha a trocar de carreira. Deixou a Time Out, e o jornalismo, e avançou para um novo desafio. Assumiu uma profissão, na altura, ainda completamente nova em Portugal: blogger.

Mais de 10 anos depois, a “Pipoca” (como é conhecida na blogosfera) já é muito mais do que uma blogger. É uma empreendedora. “A Pipoca Mais Doce” é hoje uma marca. Uma loja, vernizes, sapatos, jóias, livros e muito mais.

Recupero a entrevista que lhe fiz, na qual explicou como se relaciona com as suas finanças pessoais. Leia a entrevista:

Qual a tua relação com o dinheiro?

Acho que é uma relação saudável e equilibrada. Acho que, sempre que possível, o dinheiro deve servir para nos proporcionar algumas coisas que nos fazem felizes (viagens, jantares, concertos), mas acho também que não deve ser gasto de forma displicente ou irresponsável. Procuro fazer uma gestão ponderada do meu orçamento, reservo sempre uma parte para a conta poupança, mas se me apetecer comprar uma carteira ou uns sapatos também o faço. Mas sou incapaz de gastar o que não tenho, recorrer a créditos ou viver acima das minhas possibilidades.

O que costumas trazer na carteira?

Ui, tanta tralha. Para além de todos os cartões (multibanco, seguro de saúde, cartão do cidadão, carta de condução, cartão do Benfica), ando sempre cheia de talões, vales de desconto, cartões de pontos, cartões de visita, documentos do carro… Por mais que tente manter a carteira em ordem e por mais limpezas que faça, ao fim do dia já voltei ao caos.

Sabendo-se que os sapatos são uma das tuas paixões, reservas uma parte do seu orçamento para estes?


Gosto muito de sapatos, mas a compra dos mesmos não é uma coisa estabelecida por lei. Se gostar de uns sapatos e os puder comprar, compro. Se não der, fica para uma altura mais propícia ou até acabo por me esquecer.

Lembras-te do seu primeiro ordenado e o que compraste com ele?


O primeiro dinheiro que ganhei foi a fazer trabalhos de hospedeira, em eventos. Era miúda, teria uns 16 anos e, provavelmente, gastei o dinheiro em roupa. O meu primeiro ordenado mais a sério foi como jornalista, há doze anos, e lembro-me que o depositei quase todo na conta poupança. Na altura vivia com os meus pais, não tinha grandes despesas, era mais fácil poupar.

Em que tipo de produtos aplicas as tuas poupanças?


Tenho uma gestora de conta que me vai dando dicas sobre algumas aplicações que considera mais rentáveis. Aceito e sigo alguns conselhos, outros nem por isso . Não sou muito de arriscar nem de me atirar para investimentos loucos, prefiro ter o dinheiro seguro e à vista, para qualquer eventualidade. Tenho alguns planos a cinco anos e considero começar a fazer PPRs. Assusta-me muito a ideia de não saber que reforma terei, ou se terei, cada vez mais penso no futuro. Então depois de se ter um filho acho que é mesmo impensável não estar sempre a equacionar estas questões.

Se ganhasses o Euromilhões o que farias?


Penso tantas vezes nisso. Curiosamente, sempre que me imagino milionária penso mais no que daria aos outros do que naquilo que faria para mim. Imagino-me sempre a comprar um prédio novinho em folha, reunir os amigos todos, dar uma chave e cada um e dizer “aqui têm, esta casa agora é vossa”. Para a maioria das pessoas, a prestação da casa leva-lhes a maior fatia do orçamento familiar, por isso eu gostava de tirar esse peso aos que me são mais próximos. Pelo meio ainda lhes deixava a conta recheada, para que pudessem viver confortavelmente. Quanto a mim, deixava imediatamente de trabalhar e dedicava-me a passar tempo de qualidade com o meu filho, a viajar, a ler, a ver filmes, e a dedicar-me a projectos de solidariedade ou filantrópicos. Acho que seria uma bela vida.

O melhor investimento que fizeste?


Livros, viagens e estudos. São três formas de aprender e que me deixam muito realizada. Por mais apertado que o orçamento pudesse estar lá em casa, os meus pais nunca me negaram um livro e hoje em dia continuo a comprar mesmo muitos, nunca é dinheiro mal gasto. Quanto às viagens, costumo dizer que trabalho para poder viajar, há poucas coisas que me dêem tanto prazer. Relativamente aos estudos, ciclicamente sinto vontade de voltar à escola e reciclar conhecimentos, por isso lá vou eu fazer mais uma pós-graduação (já vou em três). Agora que penso na questão investimento, acho que também podemos inserir um filho nessa categoria. É um investimento – de tempo, de dinheiro, de afecto -, mas é, sem dúvida, o melhor investimento da minha vida.

Para os investimento recorre às dicas dos amigos ou investes por ti?


Tal como disse, não sou muito investir, não ligo ao mercado bolsista nem a nada dessas coisas. Sou mariquinhas no que toca a grandes aventuras com o dinheiro.

Imaginando que poderias escolher uma destas opções, o que preferias: uma coleção de modelos exclusivos da Louboutin, um bilhete VIP para uma final da Champions com o Benfica ou poderes comer o que quisesses e nunca engordar?

Não dá para escolher as três? Bem, então se só pudesse ser mesmo uma queria o bilhete VIP para ver o meu Benfica na final da Champions e para acabarmos, de vez, com a maldição do Bélla Guttman.

Que ensinamentos de gestão de dinheiro esperas conseguir passar ao teu filho?


Os mesmos que os meus pais me passaram a mim: não viver acima das minhas possibilidades, não estar sempre com a corda no pescoço por não saber gerir o dinheiro, não gastar mais do que aquilo que posso, ter muito cuidado com os créditos e ir sempre pensando no futuro, pondo algum dinheiro de parte. Os meus pais são ultra responsáveis na forma como gerem o orçamento e sempre fizeram questão de me fazer ver que o dinheiro não cai das árvores, que custa a ganhar, que temos de nos esforçar e, muitas vezes, fazer escolhas. Como quaisquer pais, os meus sempre quiseram o melhor para mim e sempre me tentaram propiciar tudo, mas também nunca tiveram qualquer problema em dizer-me que não era a melhor altura ou que não me podiam comprar as calças X ou os ténis Y. E eu espero conseguir ser assim com o Mateus, não quero que ache que são tudo facilidades e que basta pedir que os pais correm a comprar. Claro que ainda é muito pequenino, nem dois anos tem, mas à medida que for crescendo vai perceber que temos de lutar pelas coisas. Quero que seja um miúdo ponderado, responsável e razoável na forma como gasta o seu dinheiro.